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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cartas de atos.

Era uma tarde de domingo e eu estava voltando para casa de uma longa viagem. Foi uma viagem cheia de conflitos e problemas. No começo, foi uma viagem para melhorar a minha carreira como escritor. Porém, as histórias sempre acabavam sendo muito mais melancólicas do que deveriam ou até mesmo com pouco sal. Eu acabava me vendo sempre em uma rua sem saída. Isso me deixou frustrado.
Depois de longos meses incomunicável e soterrado de problemas me vi livre. Finalmente pude aproveitar o vento batendo no meu rosto de um belo dia de sol. E lá estava eu aproveitando a minha viagem de volta para casa com apenas uma coisa em mente. Poder rever aqueles olhos tão meigos que tanto me faziam sonhar. Eu que tive tanto o que escrever para ela, não pude enviar se quer uma carta, mas por fim entregaria.
Depois de três dias viajando de carro cheguei em casa. Minha família mal podia esperar para me ver depois de tanto tempo. Meus amigos também não podiam esperar. Eu mal havia chegado em casa e já estavam fazendo uma festa. No final da festa após conversar com todos, eu me dei conta que não ouvi nada além de "Você está mudado. Está melhor.". E eu, de fato estava melhor. Não pelo que eu passei, mas pelo presente onde me encontrava.
Passaram-se alguns dias e eu fui ao encontro dela. O clima já era outro. Estava nublado com nuvens carregadas, mas não parecia que choveria. Ou eu que quis acreditar nisso. A meteorologia disse que não iria e, por algum motivo, eu acreditei. Não devia, pois era um equivoco. E eu, que mesmo levando o guarda-chuva, não consegui me manter seco.
Quando consegui finalmente chegar na varanda dela, estava completamente molhado. Parecia um louco por estar com um guarda-chuva na mão e estar ensopado. Ela ao perceber isso riu e me convidou para entrar. Eu tirei aquelas roupas molhadas e ela me emprestou algumas que estavam secas e comecei a contar sobre a viagem. Ela ria, ficava séria e em nenhum momento pareceu desinteressada. Isso me cativou.
Depois de conversar com ela por algumas horas, eu fui buscar as cartas que tinha escrito para ela. Eis que eu me deparo com os papeis já não mais brancos. Todos eles tinham se tornado azuis ou pretos. A chuva os manchou completamente. E eu me senti um bobo de estar olhando para aqueles papeis sem saber o que dizer.
Ela me olhou, deu um sorriso breve e jogou as cartas fora. Ao voltar para a sala de estar e sentarmos para terminar o café, ela me pergunta o que tinha naquelas cartas. Eu comecei a falar tudo que eu lembrava, mas não era em ordem cronológica. Por fim pareciam idéias avoadas e sem sentido.
Ela acabou me olhando com uma feição no rosto de desentendimento e ao tentar me ajudar e acabou com mãos tão atadas quanto as minhas. Quando eu percebi que eu não estava conseguindo sair do ponto zero eu resolvi resumir. Eu pedi para que ela esquecesse tudo que eu havia falado sobre as cartas e perguntei se ela se lembrava como eram as coisas que eu escrevia. Ela disse que se lembrava perfeitamente. Então perguntei se ela achava que era algo que desse prazer de se ler. Ela, novamente, respondeu que sim. E eu concluí dizendo, enfim: "Pois, bem. Se tudo que você leu escrito por mim eu disse que era bom. Imagine as cartas como as coisas mais lindas que eu já escrevi. Coisas que eu só poderei te fazer entender realmente estando ao seu lado e te mostrando a cada dia que se passar quais eram tais palavras.”.
Ela deu um sorriso com um toque de lisongeio e de doçura. O depois disso, foi a história que estava naquelas cartas sendo escrita. Uma história que foi feita de momentos sentidos por uma só pessoa, que se tornariam momentos vividos por duas.

A falta de racionalidade me espanta.

Esses dias eu não tive muito o que me fizesse querer escrever. Todos os meus pensamentos tinham um foco e eu os dividi com quem estava contido nos mesmos. Eis que eu me deparei hoje com um pensamento bobo que já havia tido outras vezes. A simples pergunta: "por que algumas pessoas gostam de parecer idiotas?".
É uma pergunta meio sem sentido, pois eu acredito que ninguém goste de parecer um imbecil. Mas tem gente que faz sem nem perceber. Se eu faço ou fiz e não percebo, eu sou tão "comum" quanto essas pessoas, mas o caso não é esse. O caso é que para uma pessoa que não tem esse costume é muito estranho. Você vê alguém agindo assim e vê a estupidez que é aquilo.
Quando você vê um bebê, por exemplo, você vai falar algo com a criança e fica fazendo "voz de bebê". O que diabos é "voz de bebê”? Você fala errado, totalmente enrolado e fica fazendo cara de idiota pra ver a reação da criança. Aí ela ri. É meio obvio. Se ponha no lugar da criança. Você também não riria dessa idiotice? E isso também acontece com cachorros. Isso me deixa mais impressionado. Você age assim e espera uma resposta do animal. Falando normalmente o bicho já não faz. Falando que nem "bebê" ele vai entender? Creio que não.
Mas o que eu mais acho incrível é quando um casal começa com essa história de onomatopéias estranhas. Não é possível a paixão, amor, ternura, enfim, não é possível que isso ludibrie completamente a sanidade mental da pessoa. Não tem como você estar mentalmente sóbrio e fazer algo como essa voz citada anteriormente. É muito idiota.
Ou quando não chega a ponto das onomatopéias, mas das comparações. Comparar a mulher a flores, comparar a animais julgados "fofos" ou a poemas. Precisa virar homossexual pra comparar a sua mulher? Ou não, beleza, você apenas quer fazer uma comparação e a compara a algo que ela gosta. Nada de errado com isso. Mas eu nunca vi um homem comparando a mulher a algo que gosta (carros, jogos, filmes, musicas) que mostrassem muito mais masculinidade e não parecesse uma piada.
Concluindo, eu não entendo de jeito nenhum como isso é proveitoso em um namoro. Onomatopéias e comparações sem sentido. Em vez de usar "voz de bebê" tente apenas dizer com uma voz calma que a ama. Você atingirá o mesmo ponto e não parecerá um idiota. E não a compare a coisas idiotas tais como "animais fofos". Deus do céu, homem, diga apenas que não existe alguém como ela. É a mais pura verdade biologicamente e sentimentalmente. Você não se passa por nada e ainda consegue um sorriso dela.

sábado, 15 de maio de 2010

"Não desfoque esse sentimento."

Uma coisa que eu nunca entendi direito é o simples conceito da palavra "saudade". Ao meu ver, essa simples palavra expressa um sentimento de perda. Você sente falta de algo. Simples assim. Não só sente falta de coisas que perdeu, como falta de algo que você sabe que possui, mas naquele momento não está presente.
E assim, eu acreditava que era esse conceito. Achei que fosse uma definição universal, mas vi no fim das contas que não é. Existem definições variadas dessa palavra tão comum. E, além de definições, existem coisas que você expressa, com essa simples palavra, que não sugerem que você sente falta de algo simplesmente.
Um conceito que eu nunca entendi dessa palavra é o que eu chamo de "inexistente". É basicamente quando a pessoa diz que sente a sua falta, mas não faz questão de te ver. Ela te diz algo como: "Oi! Que saudade!”, e morre por aí. Ela não tenta dar um jeito nisso. Ela simplesmente diz que sente algo por seja lá qual o motivo, mas não quer que nada mude. Não é uma posição tomada por comodidade, preguiça, ou algo parecido. É só um sentimento que não faz a pessoa sentir nada. Ou se sente, não vê um motivo bom o suficiente para deixar de sentir. Isso me faz não conseguir entender como isso pode fazer sentido para alguém. Enfim...
Quanto a alguma coisa expressa pela palavra "saudade", que não significa saudade, eu tenho mais de um exemplo. Um deles é simples. Quando a mulher te diz que sente saudade da época que vocês estavam juntos, mas dizendo que foi melhor o término. Meio complicado? Eu vou explicar. Em vez de ser ouvido: "saudade de você" a mulher tenta assumir uma posição de rancor e diz algo como: "ainda bem que não estamos mais juntos". Isso é um sinal cristalino de saudade. Eu chamo de "saudade ridícula", pois é estúpido quando tem essa finalidade. Uma mera atmosfera negativa criada para dizer algo tão legal. Seria mais fácil não dizer nada em vez de desfigurar um seintimento que carrega tanta ternura.
Outro exemplo é o que eu chamo de "saudade disfarçada". É quando a pessoa te fala: "estou com saudades", mas querendo dizer: "você sente a minha falta?". Eu acho isso idiota. É tão ruim dizer essa segunda frase? Quem disse que assumir a posição de carência que você se encontra é se rebaixar? Você está deixando de vestir uma máscara. Isso deveria ser bom, mas não é. Você prefere camuflar o seu sentimento através de outro. Certas vezes sem nem notar, outras completamente ciente.
O caso é que eu não procuro usar esse sentimento de uma outra maneira. Procuro seguir esse conceito simples. Ficar criando conceitos alternativos é besteira. Isso não vai me fazer mais único que ninguém. Só mais complicado. E, assim, eu digo com nenhum pingo de dúvida que eu sinto saudade de muitas coisas. E, somente sinto isso por querer voltar no tempo e viver cada uma dessas memórias que me fazem sentir o que sinto. Pois, do que seria feita uma saudade se não fosse a vontade de reviver um certo momento, de provar um certo beijo, ou de dizer mais uma vez "te amo”? Eu te digo o que seria. Seria um sentimento com esse nome, mas que expressasse outra coisa. Qualquer uma, menos saudade.