Ela não tinha se dado conta de que o caminho era razoavelmente mais longo e acabou por ficar com sede e um tanto cansada. Sabia que ainda faltavam dois quarteirões quando calculou onde devia estar e preferiu fazer uma pausa para recuperar o seu fôlego.
Na esquina do quarteirão ela viu um café e decidiu ir até lá para tomar um refrigerante e descansar por alguns minutos. Ao chegar no café, ela viu que o único lugar vago era a última mesa do lado da janela. Ela percorreu o café todo e no trajeto bateu com o skate em uma das mesas sem querer e pediu desculpas sem nem olhar para a pessoa, pois ela ficou sem jeito. Chegou até a mesa, sentou-se e fez o pedido.
Quando a garçonete trouxe o seu refrigerante ela olhou para a mesa em que seu skate havia batido e viu que era um rapaz sentado nela. Moreno, mais ou menos 25 anos, cabelos ondulados, costeletas, magro, com tatuagem no braço esquerdo e metade do peitoral e usando uma camisa regata. Ele lia um livro de astronomia e em cima da mesa havia um chapéu coco e ao lado dele uma mochila.
Logo Julia tratou de pegar seu celular para ver se alguma de suas amigas estava online para contar essa fofoca. Acessou a internet e foi falar com Anna e contar a novidade. A conversa seguiu mais ou menos assim:
Julia diz: Aninha! Você não vai acreditar no que aconteceu!
Anna diz: O que foi, amiga?
Julia diz: Eu peguei aquele caminho mais longo para casa e fiquei cansada por causa do skate e resolvi parar para tomar um refrigerante e quando eu estava vindo até a mesa onde estou eu bati o skate na mesa de um cara lindo.
Anna diz: Nossa! E ele ficou irritado?
Julia diz: Não. Nem notou a minha existência. Além disso eu estou toda descabelada, quase sem maquiagem porque eu suei andando de skate e usando uma roupa péssima!
Anna diz: Quanto à roupa eu tenho que concordar com você. Tênis de skate, blusa larga e meia até a canela é muito coisa de menino.
Julia diz: Poxa, Anninha. Brigadão pelo conforto nessa hora de crise.
Anna diz: Hahahaha. Desculpa, amiga, mas é verdade. Mas olha só... talvez ele tenha mais coisa na cabeça do que parece. Ele pode estar pensando em outras coisas e nem ter notado ninguém mesmo.
Julia diz: É verdade... Ele parece estar lendo um livro de astronomia também. Tinham planetas na capa.
Quando Julia acaba de mandar essa mensagem dividindo olhares entre seu celular e o rapaz, ela vê que ele guarda o livro na mochila, levanta-se, põe o chapéu, põe dois fones, um em cada ouvido, e vai embora. Ele passa por ela do outro lado da janela e ela olha para ele discretamente e cobre o rosto fingindo arrumar o cabelo para que ele não reparasse que ela estava olhando para ele.
Depois desse dia ela faz esse trajeto mais longo e para no café para descansar sempre que volta da casa de Anna. Ela espera encontrar com ele alguma outra vez.