É uma quinta-feira e são exatamente 00:04 horas. Ao menos isso é o que mostra no despertador do lado da cama de Alicia. Uma menina de 10 anos que não tira os olhos desse marcador digital procurando conforto com o passar do tempo e a cada minuto estando mais perto da luz do sol trazida pela manhã.
O medo assola seus pensamentos. É uma casa nova, grande, assustadora. A fiação tem problemas e a luz fica piscando, o encanamento range e a faz sentir calafrios e o piso faz mais barulho do que a rua movimentada durante o dia.
A pobre menina se sente assustada como nunca se sentiu. Ela olha para a rua serena e para seu relógio. Sua atenção fica dividida para os dois lados de sua cama enquanto busca um pouco de conforto diante de tanto terror. Mesmo ela tendo conversado com sua mãe e escutado que era normal sentir medo dessas coisas isso não acabou ajudando. O conforto que ela busca não é conquistado.
Ela corre para seu guarda-roupa, pega sua lanterna de fada e pula em sua cama para debaixo do seu cobertor. Faz um barulho enorme, mas por fim ela se sente mais segura. Ela pega seu diário que esconde embaixo do travesseiro e começa a escrever algo parecido com:
"Hoje é meu primeiro dia nessa casa nova. Eu acho que ela é mal assombrada. Parece que ela está me vigiando e me conhece melhor do que ninguém e sabe sempre aonde eu tento me esconder. Não sei explicar. É estranho e assustador.
Eu nunca devia ter dito para a mamãe que eu sou crescida e que não precisava de luz acesa para dormir. Eu estou morrendo de medo agora. Só quero que fique logo de manhã para que eu não sinta mais medo."
E quando a menina acaba de escrever ela espia por baixo do cobertor e são 3:49 horas. Ela se sente mais aliviada, mas ainda apreensiva e logo quando a tranquilidade parece estar se concretizando a luz de sua lanterna se acaba por falta de pilhas e ela grita e sai correndo com o susto.
No corredor escuro ela acaba batendo em uma das mesas e em uma porta até conseguir pegar o trajeto certo. Eis que de repente ela é segurada por alguém e ela solta um grito de desespero. A luz se acende e ela se dá conta de que é sua mãe que foi ver o que acontecia e acabou encontrando-a. Ela acalma Alicia e a leva para o quarto para dormir junto dela e do pai da menina.
Quando amanhece e todos acordam, vão tomar café e a mãe de Alicia diz que é normal ter medo e que muitas vezes é difícil encontrar coragem sozinhos. Porém, quando há com quem dividir esse medo e encontrar segurança, o medo se vai e você nem percebe que teve coragem de procurar essa pessoa para te ajudar e no fim das contas ela só fez a sua coragem crescer.
Alicia sorri e fica ansiosa pela noite. Ela quer ser corajosa dessa vez.
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