Pages

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

"Branco, cinza, preto.preto, cinza, Branco"

Sabe quando você se vê só? Você cria um mundo onde nada parece ser o bastante, mas que você sabe que não chega nem perto de ser ruim. Você apenas se vê só, se vê em um quadro pintado somente com tons de cinza. Nunca chegando até o preto e sempre beirando o branco absoluto. Porém, fica sempre em um meio termo fugaz. Nunca se sabe qual o tom que vai perdurar.
Vejo-me sentado em um quarto diante de uma paisagem perfeita. Nuvens, árvores, campos sem fim que beiram um por do sol sem igual. Assim mesmo, não parece ser perfeito o suficiente. Me falta alguma coisa. Como se eu visse essa imagem em uma foto em preto e branco. Buscando apenas as cores certas para deixar essa foto cada vez melhor e essas cores acabam se esvaindo. Nenhuma delas parece ser enxergada por mim.
Os sabores e as lembranças começam a me afetar de uma forma diferente. Sinto falta de certas coisas cada vez mais. Lembranças recentes e mais antigas trazendo cada vez mais saudade, desejos trazidos pela gula se mostram mais constantes. Parece que tudo gira em volta de uma insatisfação inesperada e de uma saudade incessante. Não faz sentido.
Talvez seja uma fase, talvez seja um medo. O fato é que eu não sei o que é. Acho que eu deveria apenas acender as luzes, pois a penumbra está acabando comigo. A solidão se fixa ao meu lado por eu não conseguir ver tudo como eu gostaria. As silhuetas não me satisfazem, a ausência de formas e cores me fazem falta. E desse jeito eu não consigo ver o seu retrato. Algo que deveria me tirar essa escuridão de perto de mim mascarada por um simples ponto de luz agora inexistente.
Levanto-me para acender a luz e vejo por uma fresta da minha porta fechada com um feixe de luz que ilumina a foto que seguro. Eu só consigo ver partes dela. Ou seus olhos profundos, ou seu sorriso tímido e suave ou seu cabelo. Me prendo a esse passatempo até me dar conta que eu faço isso para ver cada parte que eu gosto tanto no seu rosto de cada vez. Não tenho mais uma parte favorita, pois não vejo tudo de uma vez. Cada parte que eu vejo é minha predileta enquanto estou vendo.
Esse tipo de coisa eu não veria em um lugar iluminado, onde houvesse tons de cores os quais eu nem soubesse nomear. Me vejo em um lugar certo e a solidão é passageira. Em um quarto escuro com um feixe de luz eu me sinto só, mas não perdido. É só questão de me apegar a pequenos detalhes que tudo parece melhor no fim. Tal como nesse texto... Tal como uma escala de tons.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O acaso não anda sozinho.

É um fim de tarde beirando o crepúsculo e você se encontra na cobertura de um prédio. Um prédio americano onde o terraço não tem muita coisa além de uma porta por onde você veio e uma escada de incêndio que desce pela lateral do prédio. Edifício comum em uma dentre tantas outras ruas movimentadas da cidade.
Você se encontra ali pensando no nada. Olhando para o céu e esperando ver com clareza as estrelas que você certamente não verá enquanto o vento bate no seu rosto. O casaco cinza que você veste te protege da brisa leve e gelada trazida pela estação do outono. Você veste seu tênis mais confortável e sua calça mais barata. Na mão esquerda uma garrafa pela metade da sua bebida favorita e na mão direita a tampa da garrafa.
É um momento que você se vê confortável. Não te falta nada, apenas uma coisa. Você só se dá conta quando está debruçado segurando a sua bebida. Você está apoiando-se usando seus antebraços e deixando o corpo um pouco curvado para frente, conseguindo olhar a rua.
A movimentação na rua é constante e os sons ecoam até o 21º andar. Você enfim se dá conta de que o que falta é o som do nada. O som dos seus pensamentos e nada mais. Os olhos se fecham, você sente a brisa no rosto e nada mais parece existir. Por um mero segundo você acha a paz que você procurava e tudo é perfeito.
De repente algo fica preso na sua mão entreaberta, a qual segurava a tampa da garrafa. É um pedaço pequeno de papel rasgado trazido pelo vento. Você desdobra o papel e vê a palavra "falta" no papel e instintivamente procura pela fonte desse papel.
Não muito longe você vê uma pessoa também no topo de um outro prédio jogando pedacinhos de um papel que está a rasgar para o vento levar consigo. Essa pessoa te vê de volta ao você mostrar um dos pedacinhos de papel na mão e jogá-lo ao vento novamente. Você dá um sorriso leve e ela sorri de volta.
Acabou que você se deu conta de que você conheceu alguém que sente falta de algo assim como você... Pessoas esperando que o acaso lhes dessem uma direção e mesmo quando o acaso não parece suficiente. Uma brisa de outono faz tudo se tornar diferente e de um momento tão solitário, surgir algo tão oposto.