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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O acaso não anda sozinho.

É um fim de tarde beirando o crepúsculo e você se encontra na cobertura de um prédio. Um prédio americano onde o terraço não tem muita coisa além de uma porta por onde você veio e uma escada de incêndio que desce pela lateral do prédio. Edifício comum em uma dentre tantas outras ruas movimentadas da cidade.
Você se encontra ali pensando no nada. Olhando para o céu e esperando ver com clareza as estrelas que você certamente não verá enquanto o vento bate no seu rosto. O casaco cinza que você veste te protege da brisa leve e gelada trazida pela estação do outono. Você veste seu tênis mais confortável e sua calça mais barata. Na mão esquerda uma garrafa pela metade da sua bebida favorita e na mão direita a tampa da garrafa.
É um momento que você se vê confortável. Não te falta nada, apenas uma coisa. Você só se dá conta quando está debruçado segurando a sua bebida. Você está apoiando-se usando seus antebraços e deixando o corpo um pouco curvado para frente, conseguindo olhar a rua.
A movimentação na rua é constante e os sons ecoam até o 21º andar. Você enfim se dá conta de que o que falta é o som do nada. O som dos seus pensamentos e nada mais. Os olhos se fecham, você sente a brisa no rosto e nada mais parece existir. Por um mero segundo você acha a paz que você procurava e tudo é perfeito.
De repente algo fica preso na sua mão entreaberta, a qual segurava a tampa da garrafa. É um pedaço pequeno de papel rasgado trazido pelo vento. Você desdobra o papel e vê a palavra "falta" no papel e instintivamente procura pela fonte desse papel.
Não muito longe você vê uma pessoa também no topo de um outro prédio jogando pedacinhos de um papel que está a rasgar para o vento levar consigo. Essa pessoa te vê de volta ao você mostrar um dos pedacinhos de papel na mão e jogá-lo ao vento novamente. Você dá um sorriso leve e ela sorri de volta.
Acabou que você se deu conta de que você conheceu alguém que sente falta de algo assim como você... Pessoas esperando que o acaso lhes dessem uma direção e mesmo quando o acaso não parece suficiente. Uma brisa de outono faz tudo se tornar diferente e de um momento tão solitário, surgir algo tão oposto.

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