Hoje é dia 09 de abril de 2010. Eu só consegui dormir devido ao cansaço e às calmarias seguidas da exaustão. Não há intervalos extensos entre um confronto e outro, eu já não creio muito em uma vitória.
A situação do meu batalhão é precária, pois estamos envolvidos pela fome e pelo desgaste. Um dos nossos melhores atiradores foi abatido ontem pela tarde. Ele continua nos apoiando na batalha, mas não acho que ele vá conseguir sobreviver.
As perdas estão mais constantes que nunca. A vitória está nos deixando a cada minuto, mas estamos honrando as nossas posições diante da batalha. Dois de nossos companheiros não conseguiram se salvar. A cada momento o soldado Saudade fala sobre eles. Foi o cabo Determinação e o tenente Inspiração que foram atingidos. Dois bons soldados que não sobreviveram.
Eu estou tentando fazer com que meus homens não se abalem, mas está complicado. Essa tarefa não parece ter um modo certo para que eu consiga. Nós que, como soldados, prometemos honrar o nosso uniforme e realizar uma missão estamos hesitando. Repensando sobre valores e metas. Escutei um tiro. É o aviso que outra luta está por vir.
Hoje é dia 10 de abril de 2010. Eu fui abatido. A única coisa que me mantém são é conversar com meus companheiros e focar na minha escrita. A morfina já está acabando e eu não sei como será quando eu sentir essa dor toda.
A batalha de ontem foi muito difícil. Parece que a cada dia surgem mais reforços e novos meios de ataques. Com isso, perdemos mais um bom soldado. Um amigo do soldado Saudade. Este, que não se conforma com a perda. Era o soldado que mais motivava o grupo. O nome desse bravo soldado era Paixão.
A cada dia que passa um de nós é morto na troca de tiros ou até mesmo por um descuido durante a noite. Isso me preocupa. O meu batalhão diminuiu drasticamente em dois dias. E ainda temos que segurar as tropas vindas do norte.
Dia 11 de abril de 2010. As tropas chegaram com reforços e salvaram o meu batalhão. Foi uma bela manhã de domingo. Nós acabamos cumprindo a nossa missão. É uma vitória que não se compara com a guerra, mas nos faz ser duplamente vencedores. Nós vencemos e sobrevivemos.
Meu batalhão volta para a base. O grupo era formado por 15 homens. Agora só restam 3. Uma pena terem morrido tantos bons homens, mas ao menos os que sobraram honraram a morte dos outros.
E eu que fui abatido ontem escrevi isso sem saber do dia de hoje. Eu somente apostei que isso se realizasse. Talvez eu nem tenha acertado. Talvez meramente me prendi a um sonho que tive minutos antes da morfina acabar e eu saber que ia morrer. Agora eu estou entre os companheiros que deixaram a batalha.
O que me deixa triste é que em guerras não existem lapides. Mas se a minha família quiser comprar uma que seja simbólica eu gostaria que estivesse escrito:
Esperança
2009 - 2010
"Abatido em combate para salvar seus companheiros."
Quem eu salvei? Os homens que chegaram à nossa base e souberam que o nosso governo assinou a rendição. Mas que mesmo assim foram condecorados com medalhas de bravura. O nome deles foi gravado atrás de uma medalha exposta em uma das galerias do exército como soldados com tenacidade. E assim estava gravado:
"Congratulações aos soldados Amor, Sinceridade e Saudade. Bravos soldados que cumpriram sua missão independente do que os abateu. Soldados que serão sempre lembrados pelos seus companheiros que perderam nas batalhas."
E o que eu vejo daqui onde estou, é meramente uma batalha vencida em uma guerra perdida. Onde não há mocinhos e bandidos. Apenas uma batalha motivada pela honra e comprometimento de um exército que lutou por um ideal. Um ideal nobre que não chegou a ser concretizado.
Perfeito, ovomantino! Perfeito!
ResponderExcluirSaudaades de ficar lendo seus posts... Que continuam muuito bons xD
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