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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Como você funciona?

Caí da cama certa noite em cima de um livro que não conhecia. Eu estava dormindo, sonhando que voava e acabei rolando para cima da pilha de livros que fiz sem querer ao lado da minha cama. Eu nunca tinha me dado conta de quantos livros eram. Era uma pilha enorme com cerca de 600 livros. Para um garoto de 13 anos isso parece um número infinito de livros.
Ao tomar o susto por conta da queda e recobrar a consciência, estava encarando um livro que não conhecia. Era um livro que tinha como título: manual. Eu não sabia que manual era aquele. Era grosso demais para ser um manual de algum eletrônico que eu comprara. Fui ler para ver do que se tratava e se eu reconheceria tal produto.
Eu li cada página e parecia um livro de auto-ajuda que falava de relacionamentos. Achei estranho demais o título e o conteúdo do livro, mas continuei lendo. Eram coisas estritas ali que faziam muito sentido. Muitas informações relevantes que eu poderia utilizar. Coisas como: como abordar uma mulher numa festa, quais assuntos puxar, quais não puxar e como tratá-la bem sem parecer querer ser amigo dela.
Parecia que só faltava eu limpar a terra que havia sujado meu rosto, botar minha picareta no chão e ir desfrutar da pepita de ouro que eu havia acabado de encontrar. Eram coisas que eu nunca havia pensado em fazer e era tudo explicado parecendo infalível.
Eu li o livro inteiro em algumas horas e idéias surgiam na minha mente conforme as horas iam se passando. Eu pensava em situações e nas maneiras que iria lidar com cada uma delas. Todas agora pareciam tão fáceis. Me sentia superior, me sentia inatingível. A sensação era ótima.
No dia seguinte eu fui procurar o livro e não achei. Perguntei para todos na minha casa se tinham o visto, mas ninguém o viu. Achei estranho, mas depois deixei isso de lado. As informações estavam na minha mente e eu ainda podia colocá-las em prática. Eu me sentia mais humano por ter perdido aquele livro tão cheio de sabedoria, mas me sentia grande por tê-lo lido.
Passaram-se anos e a pilha de livros sumiu. Tornou-se uma estante empoeirada e esquecida com o tempo. O menino que um dia teve tanta fé em livros e que adorava cada história que leu havia deixado de acreditar. Um mero livro que ele leu uma vez e que nunca mais se quer foi visto por ele acabou com isso.
Com os anos o menino viu que o "manual" não era certo, que não dependia só dele e que nem tudo poderia ser explicado ou entendido. No livro não dizia nada sobre amor, não dizia nada sobre frustração e nem sobre paixões impossíveis. No fim das contas o menino que agora era um homem via aquele livro como de fato um manual. Algo que explica o funcionamento de algo mecânico e padronizado.
Mas ele nunca esqueceu de algumas coisas que leu. Coisas que talvez fossem de interpretações particulares. Uma delas foi a conclusão do livro que dizia que cada mulher é diferente de maneira que se vê de longe. Não pela classe social ou por algo parecido. Por algo menor e mais peculiar, mas que não pudesse deixar de ser incluída naquele livro. Porque mesmo que ela fosse diferente em algum aspecto, ela teria o seu próprio "manual". Cabia ao homem certo defini-lo como conseguisse, mas que isso não garantiria nada. Aquilo não se tratava de uma máquina.

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