Ao tomar o susto por conta da queda e recobrar a consciência, estava encarando um livro que não conhecia. Era um livro que tinha como título: manual. Eu não sabia que manual era aquele. Era grosso demais para ser um manual de algum eletrônico que eu comprara. Fui ler para ver do que se tratava e se eu reconheceria tal produto.
Eu li cada página e parecia um livro de auto-ajuda que falava de relacionamentos. Achei estranho demais o título e o conteúdo do livro, mas continuei lendo. Eram coisas estritas ali que faziam muito sentido. Muitas informações relevantes que eu poderia utilizar. Coisas como: como abordar uma mulher numa festa, quais assuntos puxar, quais não puxar e como tratá-la bem sem parecer querer ser amigo dela.
Parecia que só faltava eu limpar a terra que havia sujado meu rosto, botar minha picareta no chão e ir desfrutar da pepita de ouro que eu havia acabado de encontrar. Eram coisas que eu nunca havia pensado em fazer e era tudo explicado parecendo infalível.
Eu li o livro inteiro em algumas horas e idéias surgiam na minha mente conforme as horas iam se passando. Eu pensava em situações e nas maneiras que iria lidar com cada uma delas. Todas agora pareciam tão fáceis. Me sentia superior, me sentia inatingível. A sensação era ótima.
No dia seguinte eu fui procurar o livro e não achei. Perguntei para todos na minha casa se tinham o visto, mas ninguém o viu. Achei estranho, mas depois deixei isso de lado. As informações estavam na minha mente e eu ainda podia colocá-las em prática. Eu me sentia mais humano por ter perdido aquele livro tão cheio de sabedoria, mas me sentia grande por tê-lo lido.
Passaram-se anos e a pilha de livros sumiu. Tornou-se uma estante empoeirada e esquecida com o tempo. O menino que um dia teve tanta fé em livros e que adorava cada história que leu havia deixado de acreditar. Um mero livro que ele leu uma vez e que nunca mais se quer foi visto por ele acabou com isso.
Com os anos o menino viu que o "manual" não era certo, que não dependia só dele e que nem tudo poderia ser explicado ou entendido. No livro não dizia nada sobre amor, não dizia nada sobre frustração e nem sobre paixões impossíveis. No fim das contas o menino que agora era um homem via aquele livro como de fato um manual. Algo que explica o funcionamento de algo mecânico e padronizado.
Mas ele nunca esqueceu de algumas coisas que leu. Coisas que talvez fossem de interpretações particulares. Uma delas foi a conclusão do livro que dizia que cada mulher é diferente de maneira que se vê de longe. Não pela classe social ou por algo parecido. Por algo menor e mais peculiar, mas que não pudesse deixar de ser incluída naquele livro. Porque mesmo que ela fosse diferente em algum aspecto, ela teria o seu próprio "manual". Cabia ao homem certo defini-lo como conseguisse, mas que isso não garantiria nada. Aquilo não se tratava de uma máquina.
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