Como em toda história, começamos falando dos dois personagens. Um deles se chama Flávio e o outro Roberto. Flávio é o rapaz responsável e trabalhador que nunca perde a esperança nas pessoas e sempre procura o que a pessoa tem de melhor dentro dela. Apesar de nem sempre conseguir, ele tenta ser a melhor pessoa que ele pode ser. Ele sempre se viu dependente de Roberto por ser carente de momentos felizes por se abalar muito com as poucas tristezas que viveu. Roberto tem uma visão de vida menos otimista e é mais racional beirando a frieza, porém em alguns momentos vagos dá para ver que há um coração batendo no peito dele. Ele sempre tentou passar a ideia de que não precisava de ninguém, mas todos que o conheceram sabiam que era mentira.
Passou muito tempo e esses dois cresceram juntos. Eles não tinham a mesma idade, mas tinham uma visão sobre o amor muito parecida. Os papos sobre as mulheres duravam horas e horas, eles inventavam teorias e tentavam deduzir tudo que fosse possível sobre esses seres tão pouco compreendidos pelos homens. Assim começou uma amizade sadia. Falando besteira tendo uma visão parecida sobre algo que eles inegavelmente adoravam. Mulheres.
No começo a falta de maturidade de ambos não os fez ser nada além de espectadores e especuladores, mas com o tempo eles aprenderam um truque ou outro. Não só com as mulheres, mas também sobre a vida. Hoje Flávio tem 25 e Roberto tem 27 e eles sabem muita coisa sobre muitas coisas. Será que isso é tudo?
Por muito tempo eles não se viram. Eles brigaram por não suportar certas diferenças e ficaram algum tempo sem se falar. Por alguns momentos passavam brevemente pensamentos na cabeça de cada um sobre o que havia acontecido. Eles se peguntavam qual havia sido o motivo da briga e não havia resposta. Havia saudade dos momentos de teorias infantis e gargalhadas exageradas.
Um dia os dois esbarraram um no outro em um bar que eles costumavam frequentar. Flávio estendeu a mão e disse para Roberto:
- Opa, tudo bem?
Roberto olhou para ele com um uma reação de desentendimento e sem apertar a mão dele disse:
- Da licença, amigo... Quero passar.
Flavio ficou com uma cara de desapontamento, abaixou a mão e deu passagem e Roberto foi embora. Logo depois enquanto Flávio está andando até seu carro e acendendo o cigarro que havia ido comprar no bar, vê Roberto esperando por ele encostado no seu carro. Flávio diz:
- Algum problema... amigo?
Roberto não revida a ironia e diz:
- Por que você teve que fazer aquelas coisas, cara? O que eu fiz pra você? Eramos melhores amigos.
Flávio esboça uma reação de desentendimento e diz:
- Do que você tá falando, Roberto? Eu não fiz nada.
Roberto balança a cabeça olhando para o chão com uma expressão mostrando que não crê no que ouviu e diz:
- Você começou a beber demais, bateu o carro na minha casa e depois disso sumiu e agora diz que não fez nada? Por que você não se desculpa? É o mínimo que você poderia fazer.
Flávio fica cabisbaixo e diz:
- Eu não pude falar ou fazer nada. Eu bebi demais, roubei o carro da minha mãe e bati na casa do meu melhor amigo por estar embriagado demais. Eu só consegui fingir que nada havia acontecido.
Roberto não diz nada. Ele olha para Flávio com uma expressão de raiva, mas ao mesmo tempo ele entendia como o amigo se sentia envergonhado. Então antes de Roberto falar algo, Flávio diz:
- Faz o que você tem que fazer, Roberto... Eu mereço.
Roberto esmurra o rosto de Flávio com muita força. Flávio é jogado contra a porta de seu carro que amassa e cai no chão. No seu rosto logo abaixo do olho direito há um corte e ele está zonzo. Quando ele olha para Roberto, vê que ele está estendendo a mão para ajudá-lo a levantar. Quando Flávio se levanta, Roberto diz:
- A gente se divertiu muito, a gente viveu muita coisa e aprendeu muita coisa. Eu te amo como um irmão. Você fez falta. Vamos conversar e rir... sinto saudade disso.
Flávio sorri e eles entram no bar, sentam em uma mesa enquanto Roberto bebe uma cerveja e Flávio toma um refrigerante e fuma um cigarro.
Uma história comum e que pode ser contada por muita gente que viveu algo parecido. Mas talvez o que essas pessoas não tenham vivido foi viver uma vida com um amigo de verdade. Um que se desculpa da maneira que for e outro que aceita as desculpas da maneira que for.
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