Era quase meia noite e eu estava sentando no único bar que eu encontrei aberto até essa hora. Eu vestia o meu terno barato e carregava meu chapéu, minha e uma capa... Fora isso só o que mais tinha comigo era a companhia do senhor Jack Daniels e o meu reflexo naquele copo meio cheio.
Eu não pensava em muitas coisas. Não era uma noite em que eu estava preocupado com alguma coisa que me fizesse querer parar naquele bar para beber até esquecer algum mal entendido ou algo parecido. Só queria pensar na minha vida.
Não vou dizer que consegui. Não consegui pensar em muita coisa. Fiquei olhando para o barman que era um homem que eu chamaria de peculiar. Moreno, 1,87 de altura com uns 94,5 quilos, uns 36 anos, usando um bigode mal feito e careca. Vestindo uma calça preta e uma camisa de botões cinza com respingos de bebidas e do suor que escorria pelo seu rosto.
Depois de me deparar com essa figura eu tentei pensar em algo diferente daquilo. Algo que não me desse pesadelos. Pena não ter conseguido nem ao menos chegar em algum ponto que me fizesse realmente refletir.
Quando parei de olhar para o barman e enchi o meu segundo copo com a garrafa que estava ao meu alcance entra um homem no bar. Era um rapaz comum. Negro, 1,70 de altura, calça jeans, uns 23 anos, casaco, guarda-chuva na mão que não lhe servia já que estava molhado e um boné.
O rapaz dirige-se da porta até o barman, faz seu pedido e o barman procura algo embaixo do balcão e quando levanta ele está com uma arma na mão e aponta para a testa do rapaz.
Eu não vou mentir e dizer que não me apavorei. Nem que eu me apavorei por ser algo que estava acontecendo na minha presença. Apavorei-me por ser possivelmente o próximo alvo. Mesmo assim me mantive sentado no balcão, sem esboçar nenhuma reação com uma mão no copo e a outra apoiada no balcão. Novamente... Eu não sou um bravo. Eu congelei mesmo.
O rapaz fica pálido e subitamente o barman abaixa a arma e sorri para o rapaz dizendo-lhe algo. O rapaz sorri de volta, aperta a mão do barman, dirige-se para a porta abrindo seu guarda-chuva e vai embora.
Eu fiquei pensando naquilo um bom tempo. No quarto copo eu chamo o barman e pergunto:
-Amigo, o que houve ali com o rapaz que entrou aqui pouco tempo atrás?
O barman esboça um sorriso e me diz:
-É uma história engraçada...
Diz isso e ri.
E eu ainda com no rosto uma expressão de incompreensão.
Logo o barman retoma dizendo:
-Vou te explicar... O rapaz entrou e disse para mim que não tinha nenhum lugar aberto a essa hora e que ele já havia tentado beber a água da chuva e não havia conseguido parar o seu soluço. Se havia algo que eu pudesse servir para ele para que o soluço fosse embora.
Eu não entendi direito e perguntei:
-E por que você em vez de servir uma água para o rapaz você apontou uma arma para ele?
O barman dá uma gargalhada ao ouvir a minha pergunta e me explica:
-Se água não funcionou a única coisa que funcionaria seria um susto. Realmente funcionou.
Eu concordei com o barman, ri junto dele, paguei minha conta e saí do bar.Indo para casa eu consegui pensar em uma coisa. Que eu duvido que alguém adivinharia como tinha sido a minha noite. Talvez eu fizesse um jogo de adivinhações sobre aquela "cena". Seria divertido.
hahaha
ResponderExcluirEssa história me fez rir. Fiquei com pena do rapaz... rsrs
Mas fiquei pensando no não dito. Quero dizer, o homem não conseguia pensar sobre a própria vida, certo? Então, quando vê o barman apontar a arma pro rapaz, pensa logo que seria o próximo alvo. E pensar que está prestes a morrer faz uma pessoa pensar ardentemente sobre sua vida e sobre como ainda gostaria de vivê-la...
Enfim, gostei =]