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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Encarceramento sentimental.

Já não sei quantos dias se passaram desde a ultima vez que me dei conta de estar aqui. Faz algum tempo que não me vejo em outro lugar. Meu rosto já esqueceu como é o calor de raios de sol e minha pele se esqueceu de como é refrescante algumas gotas de chuva. Não me lembro do cheiro do mar. Esqueci qual o som de uma brisa.
Encontro-me aqui. Entre quatro paredes. Sem pretensão de ter um futuro, estagnado diante de um sentimento de solidão. Cá estou, agarrado a um lugar que me matem preso a lembranças, pois faz todo e qualquer futuro escapar por entre os meus dedos como faria com qualquer um.
Não pareço reconhecer nada além do frio e do limo contidos nas pedras que estão me rodeando. Da madeira putrefata e repleta de cupins, tal como da porta de onde me encontro. A cama onde me deito não é para ser confortável. A comida não é para ter gosto. Nada disso deve tirar o foco do meu pensamento. Da escolha que eu fiz.
E você deve me achar louco, pois a chave da porta está dentro de uma caixa embaixo da minha cama. Eu sou livre. Estou aqui por pura e total vontade. Não cometi nenhum crime, não fiz nada além de me apaixonar. Por tal motivo me mantive aqui isolado. Prometi que ia esperar por ela. Ela não me pediu para esperar, mas eu não consegui me conter.
Não quero ter afazeres que me mantenham ocupado a ponto de esquecer algo. Talvez me esqueça por um breve momento de sua voz ou do cheiro de seu cabelo. Isso acabaria comigo, pois agora é tudo o que eu tenho. Não me importo de estar como estou. Cego como me encontro e amedrontado por ver com tanta nitidez a solidão.
Então me agarro nas lembranças que possuo. Que não são muita coisa. Momentos que eu dividi com ela e que não posso esquecer. Foi tão breve que um eterno apaixonado chamaria de "nada". Porém, esse nada... É o que eu tenho. E até ela voltar. É tudo que terei.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Não é falta de coragem. É falta de valor.

Deparo-me com uma dúvida que não creio ser só minha. Se for, não acho que serei levado a mal. É algo que realmente me deixa curioso. Algo que eu acredito que se qualquer um parar e pensar verá que meu ponto de vista tem algum fundamento.
Vieram me falar ontem que um beijo é precedido de atitude, conquista, de um flerte natural e com uma certa incerteza. Deve ser valorizado, tratado com delicadeza e com o máximo de carinho. Sim, concordo. Se não for um beijo ou meia dúzia deles de uma única noite.
Você vai dar valor a algo que está em contagem regressiva? Para que? Para sentir-se melhor quando for dormir por ter conquistado um beijo da mulher que muitos tentaram e poucos conseguiram? Não vejo grande conquista. Não mesmo. Um beijo sem sentimento, sem continuidade sentimental, sem gosto. Qual a graça?
Toda mulher com quem já me envolvi eu quis mais que um momento de uma única noite. Por isso que me arrisquei. Porque não ia ser só um simples momento. Eu queria ver se podia ser mais que isso, nisso que eu apostei. Não vou dizer que sou santo e falar que nunca fiz tal coisa com segundas intenções. Já, mas até nessas situações eu me arrisquei por ser mais que uma noite.
Não vejo finalidade em um momento que no fim das contas é uma conquista para ser trazida a tona em uma mesa de bar. Me expor por tão pouco? Não vale a pena a meu ver. Você pode acabar sendo rejeitado por algo tão sem valor e ainda se pegar chateado com isso. Muitos contras para poucos prós.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Um sentimento para um remédio.

Doutor, eu acordei com um problema sério. Por isso estou aqui.

Certo. Me conte sobre o problema e vamos resolvê-lo.

Eu acordei e levantei sem poder me mover bem.

Você sofreu algum trauma físico enquanto dormia?

Na verdade não. Acho que foi antes de dormir.

E o que aconteceu antes do senhor ir deitar-se?

Eu disse adeus. Queria ter dito até logo, mas tive que dizer adeus.

Entendo. O senhor acabou sofrendo um trauma em que fez uma ligação entre esse adeus e os movimentos do seu corpo.

Pode ser, mas acho difícil. Eu só não consigo me mover quando eu choro.

Estranho e interessante. O seu trauma causa choro e o choro causa uma paralisia momentânea. A razão do trauma pode nos dizer o problema.

Bom, eu disse adeus para uma pessoa que fazia a minha vida ter aparência de vida.

Você foi obrigado?

Fui.

Quem ou o que te obrigou a tomar esse rumo?

O destino. Não havia mais como ficarmos juntos. Tudo estava contra nós. E eu não podia me ver deixando de sentir o que sentia por ela a cada dia. Preferi guardar o que restou intacto. Tive que ser egoísta. Mas eu pensei também em não fazê-la sentir-se mal por não poder sentir de volta o que eu dizia sentir.

E agora você se arrepende e não se move.
Pois bem. O que eu acho é que você fez uma coisa que não queria, mas julgava necessária pelo simples ato de auto-preservação e preservar um sentimento que você julga importante para os dois.Você não está errado em fazer isso, mas do mesmo jeito você acabou sofrendo com isso de um modo peculiar. O que eu te recomendo é que não se sinta mal com essa situação e tente apenas não chorar. Se ocupe. Viva.

Muito obrigado, doutor. O senhor abriu meus olhos. Farei isso.


O homem passa todos os dias seguintes na frente da sua janela estático. Lágrimas no rosto e um sentimento pesado em seu peito. Ele queria melhorar, mas ele a queria de volta mais ainda. Isso é o que importava.
Patético? Não... Um sentimento puro, intocado, único. Algo pelo que valia a pena lutar.

domingo, 18 de julho de 2010

Estado transitório? Espero que sim.

Dia frio. Nublado. Já é de noite.
Um rapaz senta-se em uma praça e fica horas estático com o olhar compenetrado e pensativo fitando o chão com rachaduras. O rapaz está a pensar em uma conversa que teve com uma pessoa que admira e respeita. Uma pessoa que o conhece e pode dizer só com um olhar o que se passa com o rapaz.
E ele ficou lá por horas. Nenhum movimento aparente, nenhuma expressão facial. A conversa o fez refletir como nunca havia feito. Um simples detalhe na sua vida que o fez ficar assim. E ele se mantém dividido entre o rumo tomado com a conversa em uma dualidade sem fim.
A conversa não foi longa. Não foi profunda. Não pareceu uma conversa.
A pessoa perguntou como o rapaz estava. O rapaz responde que está chateado por não conseguir ver uma pessoa muito querida que via com frequencia puramente por contratempos trazidos pelo destino. A pessoa pergunta o que houve com o rapaz que sempre acabava triste e melancólico quando isso acontecia. O rapaz diz apenas: "Ele cresceu.".
Será que é isso que você se torna ao envelhecer? Você vai se tornando mais frio, calculista e racional? Vinicius de Moraes nunca pareceu ser tal coisa. Mas será que no caso dele os tantos amores com os quais se deparou não eram trazidos por uma sorte maior que a do rapaz? Talvez seja isso que tenha feito dele um eterno apaixonado.
O rapaz sentado na praça tenta ver as rachaduras do chão ficarem maiores. Ele tenta acompanhar o tempo naquele breve momento. Ele não consegue. Isso o faz seguir em frente e sentir que ainda pode mudar.
E eu espero que ele consiga.

domingo, 4 de julho de 2010

Reflexão após as 3 da manhã.

Não sei mais que horas são. A ultima vez que vi eram 3:15 da manhã. Eu acabo de ver um filme que já havia visto. Um filme que me fez pensar pela segunda vez em muitas coisas. E todas elas me levam a você. Não é difícil entender que para mim o mais fácil é confrontar qualquer pensamento com um sentimento tão nítido em mim. Mas dessa vez parece ter sido diferente.
O tema do filme é a natureza humana. E isso no decorrer do mesmo é debatido a partir de uma narrativa que eu achei muito interessante. São pensamentos e lembranças de cada um dos personagens chave do filme. Mas são pensamentos que por mais que revelem a trama, são contraditórios, pois focam em assuntos diferentes.
Um deles questiona sobre bondade e maldade, outro sobre como valorizar a vida em um mundo tão caótico e outro procura preservar a vida custe o que custar. E o fim do filme é mostrando o primeiro personagem morto, o segundo valorizando a vida, de fato, e o terceiro vendo o fruto de seu plano ao conseguir fazer a paz reinar na terra, mesmo que matando milhões. Um desfecho que mostra uma conquista baseada em uma mentira.
Isso me fez pensar. E se sempre tiver sido assim? Nós estivermos nos iludindo a cada segundo por puramente estarmos querendo chegar até essa paz como o filme retrata. Seria tão ruim assim acordar um dia e ver o rosto desfigurado de uma realidade desconhecida? Não posso dizer que sim ou que não. Não há como saber.
O que eu posso dizer com certeza é que eu não me importo. Pela primeira vez eu me sinto acompanhando cada momento em que o ponteiro mais ativo do meu relógio se move. E isso me faz mais feliz. O motivo é disso é por pensar em você. A cada momento que eu me deparo com uma dúvida eu me lembro que é desnecessário, pois o que eu sinto é inexplicável. É contraditório. É único. É nosso. E isso faz eu me sentir acima disso, entende?
As incertezas continuam, os problemas não se desfazem e a mudança é inevitável. Só que dessa vez eu não me sinto com medo. Dessa vez eu sei que quando eu quiser muito sonhar eu vou conseguir, pois se não for dormindo vai ser acordado no meio da noite sentindo a sua respiração no meu rosto enquanto você dorme abraçada comigo. Isso faz não ter como sentir medo estando com você.