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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Asas, auréola e uma conversa.

- O que você faz aqui em cima deste prédio, meu amigo?
- Estou observando algumas pessoas que gosto.
-Mas com esse olhar inconformado? O que aconteceu?
- Eu estou um pouco decepcionado com eles. Eles são boas pessoas, mas andam fazendo escolhas que eu não compreendo e nem aprovo.
- Entendi. Você se preocupa muito com eles, não é?
- O suficiente para estar aqui com esse olhar e tentando pensar em uma maneira de ajudá-los.
- Me conta... O que eles fizeram para te deixar assim?
- Está vendo aquele homem no prédio verde no terceiro andar? Aquele que é calvo e está vestindo uma camisa branca.
- Sim, vejo.
- Ele morava no bairro nobre da cidade, era um homem ambicioso e batalhador. Um belo dia se apaixonou por uma mulher que não fazia nada além de deixá-lo sem querer crescer, pois ela tinha uma visão de vida estagnada. Então ela não tinha pretensão de melhorar de vida e isso fez com que ele desistisse da dele e vivesse uma vida medíocre com ela.
- Espera. Se ele é feliz, ele fez o certo.
- Como uma pessoa é feliz depois de perder a fé no que ele sentia, ter uma vida que odeia e tentar se suicidar três vezes? Ele só está ali naquele cômodo daquele apartamento, pois eu o salvei duas vezes. O chefe quase me despediu por isso, mas eu não pude deixá-lo se matar. Ele ainda pode ser grande como foi um dia. Mas eu não sei se ele vai conseguir, pois o chefe não deixa mais eu ver o futuro dele.
- Bom, eu não sabia disso. É só ele por que você zela e se preocupa?
- Não. Está vendo aquela mulher loira naquele prédio espelhado no sétimo andar arrumando o cabelo?
- Sim, vejo.
- Ela está hoje com 23 anos, mora sozinha, é independente e tem um bom emprego. Só que ela fez uma promessa para ela mesma que nunca faria sexo sem amor. Por algumas vezes ela se descuidou com bebidas e fez. Ficou arrasada com ela mesma e tentou se policiar, mas um belo dia ela resolveu mudar e nunca mais lembrou da promessa que ela tinha feito que que dizia ser tão importante.
- Mas ela está bem.
- Você não reparou nos números em cima da cabeça dela? Faltam somente 4 dias para ela começar a morrer.
- Eu vi. Pessoas morrem. É algo que faz parte da vida.
- Ela vai começar a morrer, pois vai sair com os amigos, beber demais e dormir com um rapaz que vai encontrar com ela na festa em que ela estará. Esse rapaz tem AIDS e não vai contar para ela. O preservativo vai estourar em algum momento e ela vai contrair a doença.
- Nesse caso é algo a se pensar. Uma intervenção seria boa, mas eu não acho prudente depois do chefe já ter te chamado a atenção.
- Fico com pena, pois ela é uma boa pessoa que apenas nunca teve quem a instruísse a amar. Ela aprendeu sozinha da maneira dela. Uma pena.
- Olhe pelo lado bom. São só duas pessoas com problemas, existem muitas outras que te trarão alegrias.
- A questão não é quantidade. O que me deixou da maneira que estou é o fato das coisas terem tomado um rumo que essas pessoas não iriam querer se tivessem pensado melhor. E que agora estão destinadas a seguir por esses caminhos e se arrepender até terem força para mudar. Isso se elas conseguirem mudar.
- Como eu disse... Olhe pelo lado bom, são somente duas pessoas.
- Na verdade existe mais uma pessoa. Aquele homem ali naquele prédio humilde no fim do quarteirão. Quarto andar. Aquele ano fumando debruçado na janela.
- O que tem ele?
- Ele nunca teve uma uma vida fácil, foi sempre derrubado. Ele foi criado pela mãe e as irmãs mais velhas, pois o pai o abandonou. Teve que cuidar do enterro da mãe sendo jovem por ser o homem da casa. E agora tem esse pequeno apartamento que está hipotecado, pois ele perdeu o emprego.
- Mas nem todo mundo nasce com sorte na vida. Ele por acaso foi uma delas. Uma pena, mas acontece.
- A questão não é essa. Ele teve forças para não ter nenhum vício até os trinta e um anos de idade. Depois de poucos dias tendo hipotecado a casa, resolveu fumar um cigarro e depois do primeiro ele não parou. Agora ele fuma dois maços por dia e daqui há um mês ele sentirá os efeitos do câncer que ele tem no pulmão esquerdo.
- Só que essa foi a escolha dele. Não podemos fazer nada.
- A questão é que antes da mãe dele morrer, ele prometeu a ela que nunca teria um vício, pois ela contou a ele que a família era desestruturada por conta dos mesmos. O pai era alcoólatra e saiu de casa e nunca mais voltou, pois batia nas filhas e na esposa e o também contou que o tio havia morrido de câncer por fumar três charutos por dia.
- E mesmo assim ele achou que não seria o caso dele?
- Eu acredito que ele nem pensou a respeito. Essa foi a maneira dele de esquecer por um breve momento o quanto a vida foi injusta com ele. Mas ele não devia culpar a vida, ele que não tentou se levantar em momento nenhum. Agora só resta um mês de vida para ele.
- Bom, agora eu também quero me sentar, me dê um pouco de espaço.
- Vai sentar por quê?
- Porque agora eu entendi o que você está passando e fiquei como você está.
- Entendi. "Em que ponto chegamos", não é? Esse é o pensamento que está na sua cabeça, como na minha...
- Não. "Em que ponto eles chegaram". Foi nisso que eu pensei.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Uma amizade com raízes.

Esta é uma história simples e comum. Uma história em que tudo podia dar certo, mas seria fácil demais... assim, houveram problemas, houveram lágrimas e sorrisos e finalmente houve algo. É algo sobre dois amigos. Amigos de verdade e sobre o tempo. Nada além e nada menos que isso.
Como em toda história, começamos falando dos dois personagens. Um deles se chama Flávio e o outro Roberto. Flávio é o rapaz responsável e trabalhador que nunca perde a esperança nas pessoas e sempre procura o que a pessoa tem de melhor dentro dela. Apesar de nem sempre conseguir, ele tenta ser a melhor pessoa que ele pode ser. Ele sempre se viu dependente de Roberto por ser carente de momentos felizes por se abalar muito com as poucas tristezas que viveu. Roberto tem uma visão de vida menos otimista e é mais racional beirando a frieza, porém em alguns momentos vagos dá para ver que há um coração batendo no peito dele. Ele sempre tentou passar a ideia de que não precisava de ninguém, mas todos que o conheceram sabiam que era mentira.
Passou muito tempo e esses dois cresceram juntos. Eles não tinham a mesma idade, mas tinham uma visão sobre o amor muito parecida. Os papos sobre as mulheres duravam horas e horas, eles inventavam teorias e tentavam deduzir tudo que fosse possível sobre esses seres tão pouco compreendidos pelos homens. Assim começou uma amizade sadia. Falando besteira tendo uma visão parecida sobre algo que eles inegavelmente adoravam. Mulheres.
No começo a falta de maturidade de ambos não os fez ser nada além de espectadores e especuladores, mas com o tempo eles aprenderam um truque ou outro. Não só com as mulheres, mas também sobre a vida. Hoje Flávio tem 25 e Roberto tem 27 e eles sabem muita coisa sobre muitas coisas. Será que isso é tudo?
Por muito tempo eles não se viram. Eles brigaram por não suportar certas diferenças e ficaram algum tempo sem se falar. Por alguns momentos passavam brevemente pensamentos na cabeça de cada um sobre o que havia acontecido. Eles se peguntavam qual havia sido o motivo da briga e não havia resposta. Havia saudade dos momentos de teorias infantis e gargalhadas exageradas.
Um dia os dois esbarraram um no outro em um bar que eles costumavam frequentar. Flávio estendeu a mão e disse para Roberto:
- Opa, tudo bem?
Roberto olhou para ele com um uma reação de desentendimento e sem apertar a mão dele disse:
- Da licença, amigo... Quero passar.
Flavio ficou com uma cara de desapontamento, abaixou a mão e deu passagem e Roberto foi embora. Logo depois enquanto Flávio está andando até seu carro e acendendo o cigarro que havia ido comprar no bar, vê Roberto esperando por ele encostado no seu carro. Flávio diz:
- Algum problema... amigo?
Roberto não revida a ironia e diz:
- Por que você teve que fazer aquelas coisas, cara? O que eu fiz pra você? Eramos melhores amigos.
Flávio esboça uma reação de desentendimento e diz:
- Do que você tá falando, Roberto? Eu não fiz nada.
Roberto balança a cabeça olhando para o chão com uma expressão mostrando que não crê no que ouviu e diz:
- Você começou a beber demais, bateu o carro na minha casa e depois disso sumiu e agora diz que não fez nada? Por que você não se desculpa? É o mínimo que você poderia fazer.
Flávio fica cabisbaixo e diz:
- Eu não pude falar ou fazer nada. Eu bebi demais, roubei o carro da minha mãe e bati na casa do meu melhor amigo por estar embriagado demais. Eu só consegui fingir que nada havia acontecido.
Roberto não diz nada. Ele olha para Flávio com uma expressão de raiva, mas ao mesmo tempo ele entendia como o amigo se sentia envergonhado. Então antes de Roberto falar algo, Flávio diz:
- Faz o que você tem que fazer, Roberto... Eu mereço.
Roberto esmurra o rosto de Flávio com muita força. Flávio é jogado contra a porta de seu carro que amassa e cai no chão. No seu rosto logo abaixo do olho direito há um corte e ele está zonzo. Quando ele olha para Roberto, vê que ele está estendendo a mão para ajudá-lo a levantar. Quando Flávio se levanta, Roberto diz:
- A gente se divertiu muito, a gente viveu muita coisa e aprendeu muita coisa. Eu te amo como um irmão. Você fez falta. Vamos conversar e rir... sinto saudade disso.
Flávio sorri e eles entram no bar, sentam em uma mesa enquanto Roberto bebe uma cerveja e Flávio toma um refrigerante e fuma um cigarro.
Uma história comum e que pode ser contada por muita gente que viveu algo parecido. Mas talvez o que essas pessoas não tenham vivido foi viver uma vida com um amigo de verdade. Um que se desculpa da maneira que for e outro que aceita as desculpas da maneira que for.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Justiça psicopata.

Era uma tarde de terça feira e eu chegava em casa novamente exausto. Não conseguia fazer com que aquela dor de cabeça me deixasse em paz e nem que minhas mãos parassem de latejar após o contínuo uso delas naquele teclado horrível do escritório. Tentei tomar dois analgésicos e até soníferos e nenhum deles conseguiu fazer com que eu encontrasse alguma paz.
Me vejo deitado na cama olhando para o teto por cerca de três horas e daqui a duas horas tenho que voltar para o trabalho. Aquele lugar fétido cheio de pessoas falsas e que somente estão ali para sugar toda a capacidade pensante das pessoas em cargos abaixo dos deles e usar para benefício próprio. Aproveitadores malditos que me enojam.
Passaram 2 horas e meu expediente nem está pela metade. Não acredito que eu consegui resistir esse tempo todo com essa dor de cabeça e essas mãos trêmulas apenas com um copo de café e um analgésico. Não sei se as seis horas que me restam vão passar com tanta facilidade como essas ultimas duas. Espero que sim.
Até que a hora do fim do expediente chegue, pretendo ir muitas vezes ao banheiro para poder espairecer já que aquele gordo que eu chamo de chefe fica passando no corredor de quinze em quinze minutos para ficar observando se todos estão trabalhando como os escravos que ele tanto queria ter. Como eu odeio aquele idiota.
Já passam das nove da noite e era para eu ter saído daqui tem três horas, mas novamente a desgraçada da minha supervisora veio com aquele tom de voz de quem está querendo me chantagear e falou que "gostaria" que eu ficasse fazendo hora extra para compensar as faltas da semana no meu setor. Vadia. Deve estar fazendo sexo novamente com aquele cara do quinto andar. Boçal que não sabe que essa vagabunda tem aids. Bom, essa foi a unica vez nesse dia em que eu esbocei um leve sorriso.
Cheguei em casa novamente e lá estava eu... deitado na cama entorpecido de remédios que me fariam dormir, mas me mantém acordado num estado vegetativo e estático. Me sinto morto cada dia que passa enquanto aqueles miseráveis do meu trabalho sugam toda a minha vida e transformam em dinheiro.
Por volta das cinco da manhã eu consigo dormir e seis e meia eu acordo para mais um dia de trabalho. Se é que eu posso chamar aquilo de trabalho. Aquilo é uma chacina intelectual. Se as barbaridades estupidas que eu escuto e vejo todos os dias fossem sangue, acho que eu estaria naquela cena do filme do Kubrick onde vem uma onda de sangue e enche um corredor inteiro. Eu não acredito que ainda não tomei nenhuma atitude. Gostaria de ser alguém diferente nesse ponto.
Quando abro a porta de casa eu esbarro com o carteiro e ele me entrega a encomenda que eu estou esperando cerca de três meses. Volto para dentro de casa eufórico e abro a caixa como uma criança abre seu presente de natal na manhã do dia vinte e cinco. Ela é linda. Preta, com um cartucho cheio. Pesa cerca de quatrocentos grama e é perfeita.
Minhas mãos começam a tremer mais ainda, vejo meu coração batendo pela minha camisa e minha respiração está pesada demais. Tomo todas as pílulas que encontro e caio na cama sem saber o que eu fiz.
Acordo duas horas depois com o telefone tocando. É o gordo me ligando perguntando onde eu estou. Nesse momento eu já não sou eu mesmo. Eu não respondo nada, apenas desligo meu telefone, visto uma gravata e boto a minha arma na cintura.
Ao chegar no escritório me tranco com o meu chefe na sala dele e o torturo até ele morrer de hemorragia, logo depois vou até a sala da minha supervisora e faço ela ir para a sala do boçal do quinto andar e mostrar pra ele um exame de sangue dela que diz que ela é soro positivo e logo depois disso dou um tiro na cabeça dela.
E essa é a minha história. Eu não quero saber o que o juri vai achar, meritíssimo. Eu estou cagando para esses idiotas desocupados que estão aqui ouvindo essa ladainha para ganhar dez reais. Eu estou em paz, eu consigo dormir todas as noites e acordar com um sorriso no rosto. Eles me mataram por oito anos. Eu só os matei um dia. Acho justo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Um casal por acaso - Parte 1

Era uma tarde qualquer na cidade onde Julia morava. Ela estava seguindo em direção à sua casa vindo da casa de uma amiga. Geralmente ela vinha pela rua principal, mas hoje ela veio por uma rua secundária para não ter que pegar uma ladeira, pois hoje ela estava de skate.
Ela não tinha se dado conta de que o caminho era razoavelmente mais longo e acabou por ficar com sede e um tanto cansada. Sabia que ainda faltavam dois quarteirões quando calculou onde devia estar e preferiu fazer uma pausa para recuperar o seu fôlego.
Na esquina do quarteirão ela viu um café e decidiu ir até lá para tomar um refrigerante e descansar por alguns minutos. Ao chegar no café, ela viu que o único lugar vago era a última mesa do lado da janela. Ela percorreu o café todo e no trajeto bateu com o skate em uma das mesas sem querer e pediu desculpas sem nem olhar para a pessoa, pois ela ficou sem jeito. Chegou até a mesa, sentou-se e fez o pedido.
Quando a garçonete trouxe o seu refrigerante ela olhou para a mesa em que seu skate havia batido e viu que era um rapaz sentado nela. Moreno, mais ou menos 25 anos, cabelos ondulados, costeletas, magro, com tatuagem no braço esquerdo e metade do peitoral e usando uma camisa regata. Ele lia um livro de astronomia e em cima da mesa havia um chapéu coco e ao lado dele uma mochila.
Logo Julia tratou de pegar seu celular para ver se alguma de suas amigas estava online para contar essa fofoca. Acessou a internet e foi falar com Anna e contar a novidade. A conversa seguiu mais ou menos assim:

Julia diz: Aninha! Você não vai acreditar no que aconteceu!

Anna diz: O que foi, amiga?

Julia diz: Eu peguei aquele caminho mais longo para casa e fiquei cansada por causa do skate e resolvi parar para tomar um refrigerante e quando eu estava vindo até a mesa onde estou eu bati o skate na mesa de um cara lindo.

Anna diz: Nossa! E ele ficou irritado?

Julia diz: Não. Nem notou a minha existência. Além disso eu estou toda descabelada, quase sem maquiagem porque eu suei andando de skate e usando uma roupa péssima!

Anna diz: Quanto à roupa eu tenho que concordar com você. Tênis de skate, blusa larga e meia até a canela é muito coisa de menino.

Julia diz: Poxa, Anninha. Brigadão pelo conforto nessa hora de crise.

Anna diz: Hahahaha. Desculpa, amiga, mas é verdade. Mas olha só... talvez ele tenha mais coisa na cabeça do que parece. Ele pode estar pensando em outras coisas e nem ter notado ninguém mesmo.

Julia diz: É verdade... Ele parece estar lendo um livro de astronomia também. Tinham planetas na capa.

Quando Julia acaba de mandar essa mensagem dividindo olhares entre seu celular e o rapaz, ela vê que ele guarda o livro na mochila, levanta-se, põe o chapéu, põe dois fones, um em cada ouvido, e vai embora. Ele passa por ela do outro lado da janela e ela olha para ele discretamente e cobre o rosto fingindo arrumar o cabelo para que ele não reparasse que ela estava olhando para ele.
Depois desse dia ela faz esse trajeto mais longo e para no café para descansar sempre que volta da casa de Anna. Ela espera encontrar com ele alguma outra vez.

domingo, 5 de junho de 2011

Questão de vetores?

"Você é tudo que eu quero."
É só uma simples frase.
Depois de tudo que passamos o que você tem...
É não ter nada pra dizer.
Não acredito nisso.
E tudo que era de um jeito você transformou em outra coisa.
Nada mais vale agora.
O fim que eu nunca consegui ver...
Se baseia numa frase.
"Tudo que você não percebeu."

Foi assim quando eu disse que você era tudo pra mim. Eu disse de baixo pra cima. Você leu de cima pra baixo. Depois disso eu comecei a escrever coisas do jeito que você lê. Comecei com "sinto a sua falta". Pena que era tarde.

domingo, 29 de maio de 2011

O que você faz sem saber quando triste?

Um fim de tarde depois de um dia estressante Sandra vai até uma cafeteria que é na esquina da Terceira com a Sétima. Tinha sido um dia onde ela teve que despedir três pessoas que estavam com um rendimento muito abaixo dos padrões da empresa. Ela tentou argumentar com o chefe, mas não houve nada que ela pudesse fazer. Eles tinham que ser cortados.
Ela pega o seu capuchino e senta na sua mesa. Ela fica encarando a xícara por meia hora até dar o primeiro gole. Sente o café morno tocar seus lábios e descer sem levar as preocupações com ele. Ela levanta e tira uma nota de dois e uma moeda de um da bolsa e deixa sobre a mesa ao lado do café praticamente intacto.
Ela sai do bar e começa a andar para o seu apartamento que é a três quadras dali. Ela passa por um bar e depois de dar quatro passos ao passar da porta ela para, olha para a porta sem se virar e segue até a porta. Vai até o balcão e pede um copo de whisky com gelo. Senta-se em uma mesa e dá um gole. Dessa vez ela, que não costuma beber, se fixa mais em se manter sem sentir tonteira do que nos problemas que ela tinha há pouco.
Após terminar o terceiro copo ela deixa na mesa uma nota de dez, outra de cinco e uma moeda de um. Vai seguindo até o seu apartamento que é no fim do bloco. Carrega os sapatos em uma mão e a bolsa em outra. Quase cai ao tropeçar na escada, chega até a sua porta e chega finalmente em casa.
Depois de dois meses ela acaba se deparando com o mesmo dilema. Ela ter que despedir pessoas ou confrontar o chefe até conseguir que ele reconsidere. Novamente a submissão pesa mais sobre seus ombros e dessa vez quatro pessoas são despedidas pelos mesmos motivos que os anteriores.
Fim de expediente e ela segue a mesma trajetória que da ultima vez até seu apartamento. O engraçado é que ela nunca percebe que ela nessas duas vezes e tantas outras vezes em que ela se sentiu de alguma maneira triste e foi se distrair tomando um café ou fazendo qualquer outra coisa, ela pagou usando notas e deixando apenas uma moeda de um.

E se ela tivesse reparado? E se alguém perguntasse o motivo dela fazer isso? Será que não bastaria para que ela esquecesse dos problemas até o dia seguinte?

Eu também não sei.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mais um filme, mais um texto.

Eu me peguei hoje pensando em um filme que eu via tem alguns dias. Foi um filme que eu vi quando passou no cinema, mas nunca tinha parado pra ver de verdade. No cinema eu estava acompanhado de amigos e não consegui me fixar ao filme devido a comentários e brincadeiras baseadas na imaturidade da época.

Não é costume meu assistir filmes de drama e muito menos um filme onde o ator principal é conhecido por fazer filmes de comédia. Porém, esse dia eu me arrisquei e novamente me arrisquei há alguns dias atrás.

O filme conta a história de um homem que causa um acidente e se sente culpado por matar sete pessoas. E o filme retrata a história dele buscando boas pessoas para receber os órgãos dele e as propriedades no momento em que ele morrer. É um filme pesado e que em vários momentos o diretor tenta fazer o espectador se emocionar.

O que me fez pensar é o fato do principal achar que o meio de se redimir é se matar e doar tudo o que tem para quem merece e quem possibilita essa doação é seu melhor amigo. O amigo em momento nenhum parece concordar com essa idéia, mas ele havia prometido e ia cumprir apesar de qualquer coisa.

Será que se eu acabasse na situação do personagem principal eu ia fazer isso que ele fez? Ao me perguntar isso eu não soube responder. Não sei se eu carregando tamanha culpa conseguiria me imaginar vivendo de qualquer maneira mesmo que tendo partes de mim sendo "carregada" por outra pessoa. Eu não sei se nem isso eu ia conseguir achar que eu mereço.

E tem o melhor amigo que cumpre a promessa de dar esses "presentes" pra cada uma das pessoas selecionadas. Não creio que eu tenha um amigo que consiga cumprir tal promessa porque nenhum amigo meu ia conseguir fazer parte de um plano suicida. E se conseguisse, creio que ele ia chorar por muitas noites até conseguir lidar com isso. Por fim seria injusto pedir tal coisa a qualquer amigo.

Por fim eu penso... Será que é preciso uma morte motivar uma pessoa a valorizar a vida? É tão necessária que haja uma força contrária na vida de alguém para que surja uma visão de valor? Eu não sei responder nenhuma dessas perguntas. E isso me dá medo.

domingo, 1 de maio de 2011

Contradição que perdemos com a idade.

Durante um certo tempo eu fiquei sem escrever alguma coisa. Eu queria saber se alguma idéia iria se manter intacta diante de algum tempo e calhou de acontecer. Eu até hoje procuro uma resposta pra uma pergunta simples, uma resposta que eu talvez tenha conseguido, mas que nunca teve aparência de resposta.

A pergunta que eu venho feito para mim mesmo é simples. É aquela velha história de insultos e egoísmo andando juntos. Você deve conhecer... é aquela situação onde o seu/a sua amigo/a está chateado com alguma coisa e fala mal de tal coisa. Fala tudo o que tem que falar sem nenhuma pena e compartilha a dor com você e você escuta e dá o apoio que ela precisa. Até aí é só a parte dos insultos. Nenhum problema até aí. Começa a ser um problema quando você concorda insultando aquilo que acabou de ser insultado.

Não ficou claro, certo? Vou exemplificar: Meu amigo chega para mim e conta que a sua prancha de surf quebrou e que era um lixo, que só quebrava galho e que odiava aquele pedaço de isopor. Você sendo amigo concorda dizendo algo do tipo: "realmente, aquela porcaria não vai fazer falta." e o problema começa porque você insultou o que ele acabara de insultar, mas não pode. Só esse meu amigo que pode insultar porque ele que era o dono da prancha. Tem nexo nisso? Eu não vejo.

Tudo bem que esse tipo de coisa geralmente está atribuído a um objeto ou a uma pessoa que tem um nível de importância para quem está insultando, mas já que é importante assim, por que a pessoa insulta e só ela pode insultar? Pessoas me disseram que é raiva do momento, mas se você diz algo que é verdade está tudo bem e se alguém concorda com você e continua dizendo a verdade não está mais? Que coisa idiota isso. Ou você gosta ou não gosta, ou fala bem ou mal. Meio termo existe, mas gostar e falar mal é ilógico. Se você tem raiva, resolva. Insultos vagos agarrados em um egoísmo ilógico faz você parecer um/a idiota. Ou você gosta de parecer ter 12 anos?

sábado, 2 de abril de 2011

Dia de princípios e chuva.

Hoje era um dia chuvoso e eu estava sentado nos degraus de uma loja ao lado de um bar. Eu tomava minha bebida e de baixo de uma marquise esperava passar a chuva para seguir meu caminho. Eram quase duas da manhã e havia poucas pessoas no bar. Talvez duas ou três. Não entendi bem o motivo do funcionamento tão prolongado do bar, mas nem tive tempo de questionar isso na minha cabeça.

Eu vejo um homem andando do outro lado da rua até que ele para de frente para a faixa de pedestres e olha para o poste onde está o semáforo do outro lado da rua. Ele fixa seu olhar no painel em que mostra quando o pedestre pode ou não atravessar. Não há carros trafegando, a chuva o está molhando, mas mesmo assim ele fica parado e só se move quando o semáforo lhe dá o sinal de "siga".

Não se passa muito tempo e eu procuro dentro do meu bolso meu maço de cigarros e só encontro meu isqueiro. Vou até o bar e compro dois cigarros. Voltando para onde estava sentado um rapaz me pede para acender seu cigarro, eu lhe faço o favor e ele se dirige para o ponto de ônibus próximo de onde me sentava. Fico olhando para o rapaz se dirigindo para o ponto de ônibus para se proteger da chuva e ele dá uma tragada, olha um adesivo colado no vidro e joga fora seu cigarro. Ele tinha visto um aviso de que era proibido fumar. Obviamente foi um adesivo colado por algum motivo trivial, mas o rapaz não o leva menos a sério por conta disso. Curioso.

Eu dou uma risada sutil e esbanjo um sorriso de leve, apago meu cigarro que está quase terminando, boto a garrafa de volta ao balcão e sigo meu caminho. Penso no motivo deles seguirem as regras com tanta rigidez. Me pergunto por qual motivo eu não sou assim. Não acho nenhuma resposta. Acendo meu segundo cigarro e torço para não ter um sinal de proibido fumar quando olhar para o painel de pedestres quando for atravessar a rua. Eu não saberia viver como um deles, menos ainda como os dois.

sábado, 26 de março de 2011

O diário de uma menina qualquer.

Hoje acordei assustada e aflita. Novamente tive o mesmo sonho que venho tendo durante as noites em que eu consigo dormir. Parece que mesmo dormindo o tempo se passa e é desgastante como se eu estivesse acordada. Por conta disso eu não consigo me sentir completamente saudável. Eu vejo meus dias passando cada vez mais devagar e me vejo encarando meu reflexo diante do espelho tentando saber de onde vem essa maquiagem borrada.

O sonho sempre tem o mesmo começo. Sou eu de vestido branco subindo a encosta de o que parece ser uma montanha. É tudo cinza, o céu é nublado, o chão com pequenas pedras pretas que parecem sedimentos das grandes rochas negras que vão formando a montanha. Eu começo a subir a montanha e tudo parece bem, eu sinto que tenho um propósito. Só perco essa segurança quando vejo meu vestido começando a ficar sujo por tocar o chão. Eu paro por um segundo, abaixo, pego o vestido e vejo que não há como limpar.

Após levantar minha cabeça e olhar para frente, o sonho geralmente muda. Certa vez sonhei que só ficava encarando uma nuvem que não acompanhava as outras com o vento e ia afundando nas pequenas pedras que estavam sob meus pés. Não me dava conta de afundar. Somente quando a escuridão cobria meus olhos eu sabia onde estava e acordava assustada.

Outra vez eu acabara de olhar o vestido e antes de levantar meu rosto para ver a direção para onde seguiria começava a andar olhando os meus pés e via que as pedras no chão começavam a não serem foscas. Parava de frente para uma enorme rocha, usava a manga do vestido para limpar e polir a superfície da rocha e ficava vendo meu reflexo. Era um reflexo que expressava o que eu não sentia. Eu via lágrimas molhando meu vestido e o reflexo me mostrava sorrindo. Quando limpei meu rosto e sorri, o meu reflexo chorou. De repente meu reflexo começou a afundar no chão e eu me vi flutuando. Só que o céu não estava mais nublado. O céu havia se tornado o chão e eu estava caindo. Acordo me vendo de bruços no chão encarando uma boneca que está debaixo da minha cama.

O ultimo sonho que tive foi um em que eu acabara de pegar o vestido, levantava e olhava para frente. Quando ia dar o primeiro passo, meu vestido ficava preso em uma pedra e eu apenas movia a pedra e continuava seguindo. Eu via as nuvens passando e o céu nublado deixando mais evidente a noite e o dia passando. O tempo pareceu durar semanas me baseando pelo céu, mas parece que eu dei apenas cerca de vinte passos. Chego na beirada de um penhasco e chuto algumas pedras lá para baixo. Quando fecho meus olhos e decido abri-los novamente para pular ou voltar, meu despertador toca e eu acordo suada e ofegante. Só que dessa vez era diferente. Não senti medo.

Assim tem sido as noites que durmo. As que fico acordada eu sempre acabo me ocupando com um bom livro, música, televisão ou alguma comida que me faça esquecer o sono. Não entendo o que me impede de ter uma noite plena e feliz. Não sei o motivo de sonhar todas as noites e sempre lembrar, acho que isso não é muito normal.

Depois de hoje ter sonhado com aquele penhasco e não sentir medo, mal vejo a hora de poder sair do trabalho, chegar em casa e deitar na minha cama. Não sinto mais a maquiagem nos meus olhos escorrer pelo meu rosto por conta de lágrimas. Não há mais receio de haver algum problema. Quero só saber se aquele é o fim desse capítulo da minha vida. Sei que não é o fim da minha história.

quinta-feira, 17 de março de 2011

É sobre sentimentos, mas não amor.

Gostaria de em um momento viver em um mundo utópico. Fico curioso sobre tal maneira de se ver a vida. Seria um alinhamento perfeito de tudo e qualquer coisa e uma existência que beiraria toda a visão celestial que temos baseada em fé. O máximo que o homem conseguiu chegar de tal feito foi o socialismo. Não pareceu grande coisa porque eram todas as pessoas sujeitas a vidas medíocres.

Eu vivo em um mundo capitalista. Utopia aqui nem parece ser um rascunho mal feito de uma idéia tida em um sonho embaralhado e praticamente esquecida. Essa sociedade que me rodeia me faz ser de um jeito peculiar. Individualista, narcisista, materialista e muitas outras coisas, mas vamos nos manter só nesses três.

Vamos começar pelo primeiro. Eu não consigo me ver ajudando uma pessoa a sair de um buraco, pois ela não está na zona de alcance do meu braço. Digamos que o alcance é um metro. Isso se dá por uma limitação física. No caso, meu braço não é longo o suficiente e meu alcance é limitado. Porém, eu não consigo me ver tocando em outra pessoa que está a 30 centímetros de mim. Porque por algum momento eu posso cair no buraco que ela está por, talvez, ela ser mais pesada que eu e acabar me puxando.

É uma situação bem desconfortável você poder fazer algo pelo outro, mas simplesmente não fazer por algum valor seu. E eu não estou me fixado ao exemplo trivial que eu usei. É um exemplo bobo que talvez faça você ver como cada um de nós é em algum momento das nossas vidas. Alguns com mais intensidade e frequência, outros menos, logicamente. Mas a questão é que em algum momento somos assim e isso afeta os outros. As vezes de maneiras terríveis por muito pouco e nem notamos.

O segundo ponto é muito variável. Existente em qualquer um, mas muitas vezes não chega a ser tal palavra. Narcisismo é uma palavra forte. Vaidade é uma coisa corriqueira que é uma linha paralela, mas não chega a ser tão gritante. Não é algo que acaba afetando as pessoas ao seu redor se elas não se deixarem afetar. É uma atenção absurda que você dá para a sua aparência e acaba fazendo você ser um ser individualista a ponto de não se importar com a opinião e conselhos dos outros. Novamente, algo destrutivo que afasta as pessoas que gostam de nós.

Esse segundo ponto é tão bobo quanto o terceiro. O terceiro é um vício baseado em ignorância e ostentação. É algo irracional e impulsivo. Coisa que a sociedade em que vivemos nos impõe e nós aceitamos muitas vezes sem nem notar. Quantas vezes você saiu de casa e comprou algo que não precisava? Muitas. Todo mundo faz isso. Às vezes com algum motivo estúpido (estou triste, vou comprar uma roupa) ou por um motivo que a pessoa julga sério (tenho que comprar um equipamento de som com 10 caixas com 2 falantes porque sou cinéfilo).

Os três itens são impostos a nós. Não nos damos conta muitas vezes de quando estamos sendo levados por algum deles e o quanto eles nos prejudicam. Talvez eu seja cada um deles, talvez nenhum. Mas eu acredito em uma coisa. Se você nunca foi ou é alguma dessas coisas, ache alguém como você, case com essa pessoa e vire individualista. Porque amorosamente, você vai estar em uma utopia.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Os dois lados de uma moeda.

Ela:

Eu tenho que desabafar uma coisa muito séria com você. Já se passou um tempo que não estamos mais juntos e eu ainda penso em muitas coisas. Acho que muitas delas são desabafos que eu nunca consegui superar. Só queria te dizer algumas coisas antes que os nossos desencontros fossem mais comuns do que os de agora.
Dessa vez não estou me sentindo bem. Eu não mudaria nada do que eu disse e menos ainda do que eu fiz. Acho que tudo foi dito e feito por algum motivo. E chegamos nesse impasse porque tínhamos que chegar. Então eu só gostaria de te dizer algumas coisas sobre como eu me sinto agora.
Eu não acho que devia ter te pedido desculpas. Eu não fiz nada de errado, mas eu pedi e se isso foi a moeda de troca para que houvesse silêncio, que seja. Talvez nenhum de nós merecesse ser desculpado porque ambos erramos. Eu assumi a culpa e você nem agradeceu. Agora quem deveria se desculpar? Mas não se preocupe. O silêncio é mais valioso que um pedido de desculpas.
Sempre que nós brigávamos quem tinha que se fazer de errado era eu, porque se não fosse assim, era sempre uma discussão sem fim. Porque nunca você assumia o erro e quando assumia era se fazendo de coitadinho. Eu sempre odiei esse defeito seu, mas consegui te amar até o fim e depois do fim do mesmo jeito. Isso não mudou nada.
Tolerância só existia no seu vocabulário quando você tinha segundas intenções. Nada com você era de graça. Sempre um ato era premeditado e esperava uma resposta que te agradasse. Qual a função de uma relação se você quer estar com um robô? Por que você simplesmente não tenta namorar o seu reflexo no espelho?
Eu não entendo como o fim nunca foi o suficiente para você. Você tende a se mostrar cada dia que passa uma pessoa em que eu vejo menos valores, menos coisas que me atraem. Você foi o problema todo. Eu só chorava e você só se importava quando eu chegava a esse ponto. Você no fim fez um sentimento lindo em algo cheio de cicatrizes e inseguranças. Eu te amei e sempre vou te amar, mas o passado fica no passado. Era isso que eu tinha para te dizer.

Ele:

Queria te falar uma coisa. Eu sei que a gente terminou tem tempo, mas eu preciso tirar do peito uma coisa que me incomoda bastante. Queria dizer 3 coisas muito simples que são respostas para perguntas que eu fiz para mim mesmo e só depois desse tempo eu consegui.
Primeiro: nosso namoro foi horrível. Segundo: o problema todo do nosso namoro foi você. Terceiro: O sentimento foi ótimo, os momentos foram bons, mas eu não quero isso de novo nunca.
Eu sei que eu poderia deixar isso de lado e nunca ter te falado esse tipo de coisa, mas eu te amei. E você que sempre cobrou tanto da minha sinceridade. Quando eu digo: "é isso que a gente faz com quem a gente ama e perde. A gente aprende a magoar", esse sou eu sendo sincero.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Verdades aleatórias

10 - Eu acredito em mudanças

5 - Sonhos são as motivações perfeitas

2 - O mundo realmente gira

7 - O tempo passa e a gente esquece

4 - Muitos clichês são verdadeiros

1 - A esperança não é a última que morrer. Você decide qual é o último sentimento a morrer.

9 - Musicas e filmes parecem piorar com o tempo

3 - Conquistas baseadas em medos tem mais valor

8 - Nada vai cair do céu, mas bem que eu gostaria que caísse.

6 - Todas as "primeiras vezes" que julgamos importantes, não esquecemos.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Começo, meio e fim.

Parece tão boa a idéia de poder lembra de tudo com exatidão quando a gente vê um momento feliz atrelado a um momento triste. De repente parece que você lembrar faria toda a diferença e você saberia qual rumo tomar. Fixado em uma maneira de deixar a felicidade se sobrepor, você acaba sempre com um gosto amargo na boca, porque você desconfia que tem algo diferente.

Eu acabo me vendo pensando em um filme de romance que eu vi por acaso. Filme muito derrotista, por mais que toda a história girasse em torno de algo corriqueiro e atual. Odeio filmes assim, mas eu vi por indicação e talvez isso tenha feito ele ser menos repulsivo. O caso é que eu me deparo com a situação do personagem principal que só no final do filme ele lembra de tudo com exatidão e percebe que a felicidade era "forjada" e que nunca teve nada além de tristeza. Ele só conseguiu ser feliz porque ele quis ver dessa maneira, mas depois se deu conta desse equivoco. Que inveja desse personagem fictício.

Gostaria de ter um momento em que um flash passasse pela minha mente e me mostrasse um erro que eu cometi, como parece ser no filme. Algo gritante que fizesse eu me dar conta de como eu ludibriei a minha tristeza para que a felicidade ganhasse por pouco, porque a felicidade era o mocinho da história e a tristeza, o vilão. Eu devia ter escolhido "verdade" e "mentira" em vez de "felicidade" e "tristeza" para atuar nesse filme que eu chamo de vida. Eu paguei caro por esse erro.

E no fim tudo se resumiu a algo muito simples. Eu gostaria de achar um motivo bom o suficiente para me satisfazer e ver que a realidade é como tem que ser. Não uma resposta que dissesse algo diferente. Eu gostaria de realmente enxergar fatos e não só respostas que parecem tão vazias diante de atos e reações. E acaba que não parece ser possível. Algo me impede. Complicado...

Talvez seja preciso ter uma memória fotográfica, de fato. Talvez eu só precise me esforçar e lembrar do que aconteceu e não do que eu acho que aconteceu. Talvez nenhum dos dois. Eu só gostaria de saber, mas já se passou muito tempo. Na realidade não importa e eu só me dei conta há alguns momentos atrás. Hoje em dia isso não tira mais meu sono. Eu creio que isso é mais importante. Acredito que assim seja bom o suficiente.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Visão, audição e tato.

Faz tempo que eu não tenho vontade de escrever algo. Esse estado em que eu me encontro não faz deixar aflorar uma inspiração concreta em mim e eu acabo somente vendo os dias passarem. Mas hoje eu fiz algo diferente. Na verdade é algo que eu faço todos os dias, mas que por acaso me fez refletir.

Eu hoje toquei meu violão. Coisa que faço todos os dias em que paro em casa e toco ao menos por meia hora no decorrer do dia. Isso nunca foi algo que me fizesse refletir. Meu violão é um companheiro de lembranças e sonhos. Já fui a muitos lugares com ele e já lembrei de muitas coisas.

O fato é que hoje eu estava tocando o meu violão, acabou a luz e eu por um instante deixei de tocar e assimilei o ocorrido. Não foi nada de mais, foi meramente uma queda de energia. Durou poucos segundos. Foi o tempo de eu levantar calmamente da minha cadeira segurando meu violão e olhar para a lâmpada. De repente a luz voltou.

Voltei a me sentar e continuei a música que estava tocando e por algum motivo ela não estava soando bem como antes da queda de energia. Eis que eu coloquei meu violão de lado e pensei nisso por um instante deitado na minha cama encarando o teto. Levantei-me, apaguei a luz e voltei a tocar e funcionou. A melodia parecia novamente ser agradável. Após tocar por alguns minutos novamente deixei meu violão descansar e fui fazer outras coisas.

Depois de fazer algumas coisas e parar de novo no meu quarto, eu peguei novamente meu violão para tocar. Acendi a luminária e comecei a dedilhar(coisa que não faço muito) e não prestei muita atenção no som. Somente nos movimentos dos meus dedos. Não era nada complexo e nem soava como uma música que revolucionaria o mundo, mas eu me peguei fixado no movimentar dos dedos. Uma mão acompanhando a outra de formas diferentes.

Depois disso fiquei pensando até agora. A vida tem muito desse tipo de coisa. Você quando tem algum laço com alguém segue em uma mesma direção, mas de formas diferentes. E como em uma música improvisada, você não sabe qual o fim e nem se será harmônico, tampouco se o compasso continuará igual. Se torna tudo uma questão de feeling. Torna-se uma questão de desligar a luz, ouvir o som e sentir o movimento dos dedos. E se der sorte não errar nenhuma nota.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Melhores amigos.

É um fim de tarde e Milton está em seu computador acabando um relatório quando entra em seu quarto o seu irmão mais novo e deita-se na cama e fica encarando a porta. Milton vira-se para ele, vê que seu irmão parece muito irritado e pergunta:

- Algum problema, amigão?

O irmão sem desviar o olhar da porta apenas responde:

- Só quero ficar aqui um pouco no ar condicionado. Me deixa em paz.

Milton sorri e voltasse para o seu relatório. Passam algumas cerca de duas horas e Milton acaba seu relatório e vê que Douglas, seu irmão mais novo, estava dormindo. Ele sai do quarto e vai comer alguma coisa.

Quando volta para o quarto, o irmão está vendo televisão e Milton puxa papo perguntando:

- Já está mais calmo para me dizer o que aconteceu?

Douglas com uma feição mais serena responde:

- Ah! Briguei com a Milena de novo, cara.

Milton sorri e pergunta:

- E precisava ficar tão irritado assim?

Com um olhar de desabafo Douglas diz:

- Cara, a gente meio que terminou e eu nem sei bem o que eu vi nela para começar a namorar. Por isso fiquei irritado.

Milton fica com uma expressão de pensativo e diz:

- Você está me dizendo que não sabe o que viu na sua ex ou atual namorada. Você ao menos sabe o que procurar em uma namorada.

Douglas levanta um pouco seu tom de voz por conta da frustração e diz:

- Pelo visto não! Que raiva!

Milton se mantém sereno e tentando mostrar que ainda há esperanças para o irmão tão novo. Ele diz:

- Meu amigo, nem sempre a vida são flores. Mas o jardim está aí. É só saber procurar.

- Procurar o que? Essa é a questão.

- Você quer uma namorada, certo?

- Certo.

- Uma pessoa que te faça feliz, correto?

- Correto.

- Você está apaixonado pela Milena?

Douglas se vê desprevenido e não sabe como responder tal pergunta, eis que ele diz:

- E como saber isso?

Milton suspira, recosta em sua cadeira e fala:

- Bom, a gente sabe.

Douglas deitasse olhando para o teto e começa a pensar se era o caso dele. Se ele realmente não sabia o que procurar em uma mulher e se de fato ele estava ou não apaixonado. Antes da conclusão, Milton fala:

- Sabe como você devia ver a sua namorada? Como alguém que você achava que nunca teria, mas que ao mesmo tempo consegue se ver tendo.

Douglas não entende e pergunta:

- Como assim?

- Imagina aquela mulher que você julgou nunca ser o seu tipo, nunca estar englobada no padrão de mulheres com quem você se envolve. Essas são as melhores. É como andar vendado.

Douglas fica mais e mais confuso. Ele pensa em perguntar algo para que isso que o irmão mais velho acabara de dizer faça sentido, mas nada lhe vem à cabeça. Então Milton continua.

- Vou tentar explicar. O bom da vida é não saber qual o caminho seguir. É aí que você se sente vivendo. Não coberto de duvidas e inseguranças, nada disso. Só viver sem saber as respostas para todas as perguntas.

Douglas parece entender basicamente a idéia que seu irmão quis lançar e então fala:

- Então o melhor tipo de namorada é o tipo que faz você não ter todas as respostas? E ficar só com as perguntas?

Milton gargalha com a pergunta inocente do irmão mais novo e responde:

- Não. Você alcança as respostas junto com ela. Com o tempo. Essa que é a beleza da coisa, entendeu?

Douglas sorri e diz:

- Entendi! Agora faz sentido. Seguir junto dela. Mas espera... é isso que eu tenho que procurar numa mulher?

Milton sorri um pouco sem graça e diz:

- Na verdade isso é durante o namoro. O antes é diferente. Eu fugi do assunto, desculpe.

Douglas volta a se jogar na cama. Cruza os braços e volta a encarar o teto com uma expressão de desapontamento. Eis que Milton diz:

- O que você tem que procurar é uma beleza que só você veja. Uma que você só consiga descrever com o tempo ou talvez nunca consiga. Que não seja uma qualidade física ou da personalidade. Algo que seja único.

E Douglas pergunta com um tom de ironia:

- Como se eu visse uma aura em volta dela?

Milton balança sua cabeça e diz:

- Se esse for o “algo único” que eu falei... Sim.

Douglas parece finalmente ter entendido. Ele por um breve momento se mantém preso aos seus pensamentos e gradativamente começa a esboçar um largo sorriso. Levanta-se da cama lentamente e diz:

- A Milena tem esse “algo único” que você falou.

Milton contente levanta-se da cadeira, dá um tapinha no ombro do irmão e diz:

- Isso é no mínimo paixão, meu amigo. Ela tem sorte.

Dito isso Douglas levanta-se da cama e vai direto para o telefone fazer as pazes com a sua namorada e Milton contente pega as chaves do seu carro e sai de casa sentindo que talvez tenha feito alguém feliz naquela noite.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O que as traças deixaram.

Minha velha, vem aqui! Preciso te mostrar uma coisa!

Eu encontrei as suas cartas, amor. As suas e de muitas outras pessoas. Nem parece que fazem tantos anos desde esses momentos de glória retratados em cada uma das cartas. Todas cheias de amor e cheias de carinho. As suas são as melhores, sua boba. Deixa de besteira.

Olha essa carta aqui daquele amigo que brigou comigo por causa de um rabo de saia. Nem acredito que eu ainda tenho isso. Achei que as traças iam se livrar dessa carta antes que eu pudesse vê-la de novo. Que engraçado encontrar ela aqui nessa caixa que estava tanto tempo na nossa garagem.

Veja só esta carta aqui, meu bem. Ainda tem um resquício do perfume da menina que me escreveu. Não, amor! Tudo bem, agora é lixo essa carta...

Ah... Eu lembro desta aqui. Foi de quando eu briguei com uma grande amiga minha. Sim, minha linda. Era só uma amiga. Ela que me ajudou quando papai faleceu. Ela me salvou da depressão. Eu já te contei sobre ela, não é? Pois é, estou vendo que nessa caixa estão contidas mais boas lembranças do que ruins. Que bom!

Nossa! Lembra-se dessa carta, querida? Sim, é ela sim! Essa é a primeira carta que eu recebi sua. Da época em que nós ainda estudávamos. Eu te disse que tinha guardado em um lugar seguro e que não a tinha perdido. Que lembrança boa.

Dessa eu não me lembro. De quem será? Ah, sim. Lembro bem dessa mulher. Eu ainda era jovem. Devia ter por volta de 30. Quando li essa carta eu tive certeza de que eu soube o que era amor. Foi uma pena ter acabado do jeito que acabou. Sorte que o destino me deu uma chance de verdade e eu te conheci.

Tem muitas cartas que não tem mais nem como saber quem escreveu. Olha só isso. Parece que dessa só sobrou um quarto. Traças malditas. Levaram talvez umas boas lembranças embora. Ao menos deixaram algumas outras. Isso basta.

Já se passou muito tempo! Olha só a hora! O chá já deve estar pronto...

Bom, vamos parar de mexer nessas caixas cheias de poeira. Vamos lá para dentro. O chá vai esfriar.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Como você funciona?

Caí da cama certa noite em cima de um livro que não conhecia. Eu estava dormindo, sonhando que voava e acabei rolando para cima da pilha de livros que fiz sem querer ao lado da minha cama. Eu nunca tinha me dado conta de quantos livros eram. Era uma pilha enorme com cerca de 600 livros. Para um garoto de 13 anos isso parece um número infinito de livros.
Ao tomar o susto por conta da queda e recobrar a consciência, estava encarando um livro que não conhecia. Era um livro que tinha como título: manual. Eu não sabia que manual era aquele. Era grosso demais para ser um manual de algum eletrônico que eu comprara. Fui ler para ver do que se tratava e se eu reconheceria tal produto.
Eu li cada página e parecia um livro de auto-ajuda que falava de relacionamentos. Achei estranho demais o título e o conteúdo do livro, mas continuei lendo. Eram coisas estritas ali que faziam muito sentido. Muitas informações relevantes que eu poderia utilizar. Coisas como: como abordar uma mulher numa festa, quais assuntos puxar, quais não puxar e como tratá-la bem sem parecer querer ser amigo dela.
Parecia que só faltava eu limpar a terra que havia sujado meu rosto, botar minha picareta no chão e ir desfrutar da pepita de ouro que eu havia acabado de encontrar. Eram coisas que eu nunca havia pensado em fazer e era tudo explicado parecendo infalível.
Eu li o livro inteiro em algumas horas e idéias surgiam na minha mente conforme as horas iam se passando. Eu pensava em situações e nas maneiras que iria lidar com cada uma delas. Todas agora pareciam tão fáceis. Me sentia superior, me sentia inatingível. A sensação era ótima.
No dia seguinte eu fui procurar o livro e não achei. Perguntei para todos na minha casa se tinham o visto, mas ninguém o viu. Achei estranho, mas depois deixei isso de lado. As informações estavam na minha mente e eu ainda podia colocá-las em prática. Eu me sentia mais humano por ter perdido aquele livro tão cheio de sabedoria, mas me sentia grande por tê-lo lido.
Passaram-se anos e a pilha de livros sumiu. Tornou-se uma estante empoeirada e esquecida com o tempo. O menino que um dia teve tanta fé em livros e que adorava cada história que leu havia deixado de acreditar. Um mero livro que ele leu uma vez e que nunca mais se quer foi visto por ele acabou com isso.
Com os anos o menino viu que o "manual" não era certo, que não dependia só dele e que nem tudo poderia ser explicado ou entendido. No livro não dizia nada sobre amor, não dizia nada sobre frustração e nem sobre paixões impossíveis. No fim das contas o menino que agora era um homem via aquele livro como de fato um manual. Algo que explica o funcionamento de algo mecânico e padronizado.
Mas ele nunca esqueceu de algumas coisas que leu. Coisas que talvez fossem de interpretações particulares. Uma delas foi a conclusão do livro que dizia que cada mulher é diferente de maneira que se vê de longe. Não pela classe social ou por algo parecido. Por algo menor e mais peculiar, mas que não pudesse deixar de ser incluída naquele livro. Porque mesmo que ela fosse diferente em algum aspecto, ela teria o seu próprio "manual". Cabia ao homem certo defini-lo como conseguisse, mas que isso não garantiria nada. Aquilo não se tratava de uma máquina.